Não descasque suas feridas..
Sem se conhecer, você não vai se aceitar. Sem se aceitar, não vai gostar de si mesma. Quando você não se conhece, não se aceita nem se ama incondicionalmente, uma das coisas que faz é o que chamo de descascar feridas.
Lembra quando você era pequena e tinha algum machucado que depois de sangrar formava uma casca? A tendência era arrancar a casca. A nossa perna linda, completamente sem marcas, não interessava. Mas você aproveitava qualquer oportunidade para mostrar a perna cheia de machucados. Você não tinha vergonha. Levantava a calça comprida e mostrava à família, aos amigos e mesmo a estranhos a ferida feia, em qualquer lugar do corpo.
Mostrar a ferida não bastava: tínhamos de tirar a casca e deixar a ferida em carne viva à vista do público. Como adultas, fazemos a mesma coisa conosco e com nossas vidas. Descobrimos os pontos mais fracos de nossa personalidade, as “carnes-vivas” de nossas vidas, e mexemos, mexemos nelas. Nós a exibimos para que todos saibam que temos um machucado, uma ferida, uma fraqueza. Isso explica nossa dificuldade em aceitar elogios. Se alguém nos elogia, nós logo indicamos o que há de errado, a falha daquilo que está sendo elogiado.
Adoramos nos descascar. Mas se alguém aponta para nossa ferida, se comenta uma fraqueza ou uma falha nossa, ficamos indignadas: “Ah, não! Não venha descascar minha ferida! Vai doer.” Lembro quando minha mãe tentava passar iodo nos meus machucados e eu gritava à beça. Quando era ela quem passava, a dor era insuportável. Quando eu mesma passava sabia exatamente como e onde.
Conhecer a si mesma não significa tirar cascas de feridas, sentir-se mal por causa de seus machucados e pontos fracos. Significa que você reconhece que os tem, se compromete a cuidar deles e a deixá-los em paz para que se curem. Pare de mostrar às pessoas o que você não se sente capaz de fazer, como você é ruim e fraca. Tente de todos os jeitos, cuidar da ferida para facilitar a cura, mas não tire a casca e nem fique exibindo-a!
Há também aquelas que não tiram a casca das feridas, nem mostram. Cobrem o machucado. Se você cobre um ferimento aberto, ele vai inflamar e infeccionar. A infecção pode se espalhar pelo corpo todo, pondo sua vida em perigo. Ferimentos emocionais e espirituais podem ser tão infecciosos quanto os físicos.
Machucados e feridas precisam de ar para se curar. Precisamos expor para nós mesmas as coisas que nos feriram ou machucaram. Para cuidar e curar nossos machucados, temos de admitir que eles existem. Quando ficamos com medo, vergonha ou culpa por termos um machucado, pela forma como nos machucamos ou com o que fizemos para tentar eliminar a dor, a tendência é querermos nos esconder. Quando escondemos nossas dores emocionais ou espirituais, elas infeccionam e afetam quem somos e o que fazemos.
domingo, 10 de maio de 2009
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